18 de dezembro de 2007

O DESPORTO E A EMERGÊNCIA

Finalmente correspondo ao pedido de participação neste blogue do meu amigo Fernando, que me pediu que escrevesse algo relativo á emergência médica pré-hospitalar e ao desporto.
Aconteceu, num passado recente, uma série de episódios de emergência no mundo do desporto, nomeadamente no futebol, que em conjunto com a natural evolução das coisas, levaram a que tenham vindo a ser adoptadas medidas e comportamentos com vista a uma melhor resposta perante uma situação de emergência.
Até mesmo eu, que não sou espectador atento desta modalidade, tenho reparado que os casos se sucedem, dando especial atenção ao que melhor conheço, ou seja, a abordagem que cada situação de emergência tem merecido pelos intervenientes nessas situações.
Relativamente ao desporto e á emergência, ou se preferirem, os primeiros socorros, podemos considerar o antes e o depois da morte do jogador de futebol Fehér.
Provavelmente, dezenas de casos semelhantes terão acontecido antes do dele, mas nenhum certamente tão mediático e em directo! O Fehér, foi, sem sombra de dúvida, um marco para a resposta a situações de emergência, concretamente, no que respeita ao dispositivos de prevenção em jogos de futebol.
O Euro 2004 teve direito a um dispositivo de emergência nunca antes visto, não só pelas fortes exigências da UEFA, mas também porque Portugal tinha sido exposto ao mundo da pior maneira com o caso referido.
Assim, médicos, enfermeiros, técnicos de emergência médica, operadores de telecomunicações,… Integraram um dispositivo de prevenção nunca antes visto em nenhuma parte do mundo! Eu diria dispositivo exagerado!!! Mas, o que é certo é que não se podia correr riscos!
Para que tenham consciência do que a morte do Fehér de facto envolveu, pela primeira vez em Portugal, começaram de imediato a serem implementados desfibrilhadores nas ambulâncias, até á altura, só disponíveis para uso médico, nos hospitais e nas viaturas médicas de emergência e reanimação, tripuladas por médico do INEM!
As mudanças davam o seu fruto! No estádio do Bessa, num dos primeiros jogos, não me recordo qual, acontecia na bancada a primeira paragem cardio-respiratória num adepto! Claro que, escassos metros ao lado, havia um técnico de emergência médica com um desfibrilhador e logo de seguida uma equipa médica! A vida viria a ser salva!
Há poucos dias no estádio do Dragão a cena repetiu-se com sucesso!
Se o Euro 2004 foi um exemplo, repito, até algo exagerado, certo é que até gerou um convite por parte da Alemanha quando realizou um evento semelhante, hoje em dia, tem-se voltado ao “deixa andar”.
Estão definidos padrões de segurança mínimos para os jogos mais importantes, mas da segunda divisão para baixo, praticamente nada existe.
E o médico do clube? Podem vocês perguntar… Os médicos de medicina desportiva, são especializados nisso mesmo, medicina desportiva, e não em emergência médica! A emergência médica não se apreende nas faculdades de medicina ou de enfermagem, é algo muito específico e que carece de prática e treino! Por isso, médico + desfibrilhador + massagista, não é igual equipa capaz de responder a uma verdadeira situação de emergência!
No caso do Fehér, e falo nisto, porque sei que certamente o querem saber, o socorro prestado não esteve á altura da verdadeira situação de emergência. Fique claro que, isso não quer dizer que o desfecho não seria o mesmo, no entanto, a resposta á emergência, essa sim, podia e deveria ter sido diferente.
Escrevo-vos esta primeira vez para deixar uma ideia do que existe em Portugal neste momento, lembrando que não podemos ter uma visão extremista.
Nem tudo é mau, já esteve pior; não temos os apanha bolas a transportar a maca com os jogadores, como recente se viu num jogo da selecção no estrangeiro, mas ainda há muito a fazer nesta área!
Seria, por exemplo, de extrema importância que todas as pessoas que praticam desporto com regularidade saibam o que fazer nos primeiros minutos de situações emergentes, como é a paragem cardio-respiratória.
O objectivo de pequenos gestos que todos podem aprender, pode não é resolver a situação, mas é sem dúvida, mater a vítima “viável” para procedimentos mais diferenciados; é sobretudo, evitar o seu agravamento e não proceder de forma errada.
Espero ter correspondido ás vossas expectativas, aguardando agora que questões se levantem!

Ao Vosso dispor,

PEDRO LOURO – Técnico de Ambulância de Emergência – INEM Porto

Tripulante de motociclo de emergência médica
Formador
Bombeiro / Instrutor
Emergency Medical Technician – E.U.A.
EMT-B, PHTLS, AMLS, PPC, PEEP, WEC, CAT

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